segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Trecho de uma carta de Vinícius (Vinícius de Moraes)



“Se você soubesse como minha vida ficou monótona, com sem gosto de nada, as vezes tenho a impressão q não vou poder agüentar nem mais 5 minutos sem te ver ... e ainda faltam tantos 5 minutos meu bem...”

Neologismo (Manoel Bandeira)


Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

As Rosas Não Falam (Cartola)




Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão, enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim

Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim.

Da Flor que Dorme (Talytha Rocha)

Com a alma descrita em versos
E olhares inda tão vagos
Ela o procura
No universo da loucura
Que o coração está imerso....


Naufragando em afagos
Entre beijos com ternura
Dia pensou que fosse a cura
Mas na verdade, foi o inverso.

Sob Medida (Augusto Simões)




Meça-me as curvas dos cachos.
Meça-me dos lábios às suas
Maçãs do rosto aos sorrisos
Muda-me, sincera, a silhueta.
Meça-me os cílios das bochechas
Que se caíssem, meus seriam.
Meça-me se ela diz:
“Amor”
Meu merecimento.
Mais linda moça
Bela moça, agora minha.
Meça-me agora
Meu amor por ela
Que pesará

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ao Girar (Augusto Simões)





Bem se sabe que se me dás a volta tantas vezes, volto tonto a te olhar bem como todo faço-me rodar, minha menina tonta de girar em meu torno, a te buscar. Gosto do teu girar ao meu redor e de rodar ao teu girar então me torna que eu te procuro e se cansados ou tontos, os dois, caímos para olhar para os céus, das bocas, à sobra do que for e cantamos nossa embriaguez, somamos os sorrisos em rosas e flores roubadas por nosso amor vadio e plantadas e cuidadas por nosso bem estar ecológico. Enquanto paramos meu bem, não te preocupa que o planeta já gira por nós e nos deixa tontos por ele, é que fizeram o mundo girar mais rápido neste século, e os outros não entendem, eles se estressam, e nós? Nós ficamos tontos e voltamos a cair sempre, e sempre que levantamos competimos com o mundo como que dizendo: “Giramos mais rápido que você e não envelhecemos por isso, veja só mundo tonto! Somos tontos no mundo e não tontos do mundo, mundo tonto, pois amamos, mundo tonto, mais tontos que o mundo.” E voltamos a girar e dar nossas voltas que nunca voltam ao mesmo lugar. Enquanto o mundo gira, giramos o mundo e mudamos o mundo aos giros que o amor manda.

domingo, 9 de novembro de 2008

Todo Amor (Augusto Simões)


Minhas cores são tuas cores, amor
Colore a mim que te dou cor
Ou faz-me só amor

Minha arte é tua arte, amor
Meu ar te parte em torpor
E transforma-te em amor

Minha letra é tua letra, amor
Me lê, traz e leva a dor
Que esta também é do amor

Minha melodia é tua melodia, amor
Todo meu dia soa se estou
Exposto ao tal do teu amor

Minha parte és tu, amor
É pra ti, querida, que dou
E só assim se completa o amor

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Por Mim, Você (Augusto Simões)



Ao chegar me aparece
Ao sorrir me enriquece
Ao falar me apetece
Ao sentir me amolece

Ao ouvir me tece
Ao calar me entristece
Ao sair me enlouquece
Ao voltar me embelece

Ao chorar me esquece
Ao lembrar me desaparece
Ao findar me agradece
Ao andar me carece

Ao gostar me padece
Ao gozar me merece
Ao tocar me aquece
Ao amar me enaltece


Basta viver que já me mexe.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Coito (Augusto Simões)





Veste a roupa que lhe dei e passeia pelo quarto. De certo aprecia a vestimenta, trouxe algo sem folgas, pelo contrário, um ou dois números a menos, pressiona seu corpo, noto melhor suas curvas, mas não se incomoda, posto que já lhe é de hábito viver sob pressão, como se não bastasse as de praxe, as que lhe são postas goela abaixo, ainda se sufoca mais em vaidade. Não me acanho nos elogios, e mostro-lhe o quanto a admiro. Pesam-lhe as jóias nas orelhas, o colar, bem rente ao pescoço, atrapalha alguns movimentos enquanto reflete cada luz que se aproxima. Está radiante em seu vestido justo, novo, lhe apertando os quadris, mal lhe permite alguns movimentos. Ainda se enaltece em seus saltos, altos, com bicos finos, finos saltos altos onde ela flutua e desgasta suas pernas e sua postura. Admira a própria maquiagem, cobrindo seu rosto de branco, escurecendo os cílios, clareando a pele, escondendo as expressões, disfarçando o cansaço, pinta os lábios, colore seus tons, rosas, azuis, brancos, todos harmonicamente suaves. Eis que quando penso que acaba, torna à penteadeira e começa seu escultural penteado, dentre pentes e escovas, presilhas, adornos e tinturas se satisfaz. Então se enche de creme, se perfuma e me pergunta: “Onde vamos?”

Calo, a conduzo até o restaurante, peço um prato breve e levo-a de volta ao nosso lar. Pergunta-me então: “Por que tão breve?”

Respondo, enfim: “Pois estás vestida para o mundo, bela para os outros olhos, cheirosa para os outros perfumes. Agora quero-te especial para mim.”

Curiosa, me pergunta: “Como?”

Abro meu maior sorriso, a finto sem pudor e lhe falo em bom tom: “Despe-te e transpira.”

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tentativa de Soneto Mal Calculado (Augusto Simões)




Te amo assim como tenho dito,
assim como tenho mostrado,
assim como tenho provado
e bem sabes que eu não minto

Te amo assim como admito
que sempre tenho encontrado
todo o carinho, ao teu lado,
e tudo o que eu necessito

te amo mais a cada dia, querida
bem sabes o quanto te amo
sei, conheces bem meu amor

bem sabes, hoje, és minha vida
sei bem, também amas tanto
pois amamos assim, sem pudor

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Às Metáforas (Augusto Simões)


Ando meio romântico, admito
Mas não consigo usar tantas metáforas pra descrever
Então uso somente o que sinto
Não gosto de dar muitas voltas para me escrever

Não admiro metáforas, não as sinto
E uso muito de romantismo pra me descrever
Algumas vezes até dou voltas, admito
Mas não é por nada. É só porque sinto tanto quanto costumo escrever

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Por Onde Andas em Mim (Augusto Simões)




Pra onde eu olho te vejo
Quando me vejo te acho
Encontro-te em todo canto
Em olhos, olhares, olhadas
Acho-te, também, em mim
Pois te vejo parte de mim
Vejo-te em tudo que há
És presente em mim
Estás em tudo o que vejo
E me cerco de tu com prazer
Todo dia e o dia todo
Até que, enfim vejo-me em tu
Eu tu te vês em mim, nos vendo
O que faltava se completa
Completos, não vemos mais
Pois, agora, só sentimos
E fechamos os olhos

sábado, 27 de setembro de 2008

Pelas Bocas (Augusto Simões)





Minha moça
Beijei outra
Outra boca
Não a tua
Bela moça
Outra moça
Boa boca
Não a sua
Triste boca
Boca nua
De tu moça

Tua boca
Linda moça
Boca linda
Boca outra
Beijei bobo
Sem pra que
Quero a sua
Boca minha
Não a outra

Mas a tua
Boa moça
Boca minha
É de outro
Bela moça
Boca minha
Beijou ontem
Boca outra
Beijou breve
Boca tua
Pensando beijar
Queria beijar
Beijou outra
Beijando tu
Moça minha

Deixa o outro
Boca minha

Não deixa
Boca minha

Pois já deixei
Boca outra
Pela boca
Bela minha
Boca tua
Bela moça
Moça minha

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

De Seu Agrado (Augusto Simões)


Mesmo não sabendo o que me aguarda
Aguardo contente, o que vier
Vindo de onde vier
Fico contente em aguardar
Mas não me contento só
Me divido, contente, com todos
Tendo a fazer contente quem aguardo
E acho que alguém vive a me aguardar

Ainda não sei o que aguardo
Mas sei que já estou contente por aguardar
Pois sei quem aguardo
E sei como consegue me agradar
E, caso eu seja de seu agrado
Eu fico é grato por lhe agradar
Há de ficar grata também
Com o tanto de agrado que tenho pra dar

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Parte de Mim... Sou Pouco (Augusto Simões)


À parte de mim,
És tanto e tão pouco. Só és.
Pois sou pouco
Só somo o bastante

A parte de mim [que]
És tanto e, tampouco, só és.
Pois sou pouco
Só somo o bastante

Ah, parte de mim,
És tanto. Então, pouco, só és.
Pois sou pouco
Só somos o bastante

Anos Dourados (Tom Jobim/Chico Buarque)















Parece que dizes
Te amo, Maria
Na fotografia
Estamos felizes
Te ligo afobada
E deixo confissões
No gravador
Vai ser engraçado
Se tens um novo amor
Me vejo a teu lado
Te amo?
Não lembro
Parece dezembro
De um ano dourado
Parece bolero
Te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
É desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Ligações (Augusto Simões)




Mostra-me quem és, amor.
Agora, nem sei com quem estou.
Não sou desses que figura o amor.
Prefiro saber bem com quem estou.
Diz-me, amor, que te dou todo amor.
Sabes que quando chamar, lá estou.
Afinal, já te neguei amor?
Faz o favor de entender como estou.
É difícil não saber quem merece meu amor.
Interessante saber-me feliz onde estou.
Estou contente por amar desconhecendo meu amor.
Saiba, sem dúvidas, que é com você que estou.
Seja como for, terás o meu amor.

Seja como for, terás o meu amor. [Sim,] saiba, sem dúvidas, que é com você que estou [e ainda] estou contente por amar desconhecendo meu amor. [Por mais que seja] interessante saber-me feliz onde estou [...] é difícil não saber quem merece meu amor. Faz o favor de entender como estou [!] Afinal, já te neguei amor? Sabes que quando chamar, lá estou [! Então] diz-me, amor, que te dou todo amor [pois] prefiro saber bem com quem estou [e] não sou desses que figura o amor. Agora, nem sei com quem estou [! Por favor!] Mostra-me quem és, amor.

domingo, 31 de agosto de 2008

Talvez Seja Por Isso Que Não Te Vejo Mais (Augusto Simões)


Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Detive todo meu pensamento em você
Estive composto e disposto pra você
Mas, não é bem por isso que não te vejo mais.

Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Todo meu suado esforço foi por você
Cada palavra, cada verso veio de você
Mas, não é bem por isso que não te vejo mais.

Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Fui ausente de mim quando sem você
Fui presente só quando estive com você
Mas, não foi bem por isso que não te vejo mais.

Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Nunca nem ousaria em deixar você
E não deveria me arriscar e voltar a você
Mas, é sim, bem... por isso que não te vejo mais.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Agora Somos (Augusto Simões)




Ela me lê,
Eu a leio,
Interpretamo-nos, então.
Ela da sua forma,
Eu da minha forma,
Ela, então me forma, sob sua visão,
E eu, faço o mesmo.
Achamos, imaginamos,
Deformamo-nos na forma que achamos correta.
E nos formamos, nos fazemos, aos poucos.
E, aos poucos, tomamos formas novas,
Transformamo-nos, um ao outro,
E formamos um só, agora.
E, agora, nos lemos,
De várias formas,
Sem fôrmas,
Formando-nos,
Deformando-nos,
Transformando-nos,
Pois agora somos.

sábado, 23 de agosto de 2008

Meu Último Primeiro Beijo (Augusto Simões)


Por hora contemplo
E somente, quieto, a vejo
Passa, leve, o tempo
Friozinho na barriga, desejo

Uma vez, eu tento
Me tremem as pernas, almejo
Ainda me sustento
Ela corresponde e sim, festejo

Converso atento
E pouco a pouco, histórias, manejo
Convido, sento
Outra vez aceita, palpito, pelejo

Sorrisos, lamentos
Romances contados sem ensejo
Marcamos outro momento
Passam dias e horas, anseio

Enfim o acontecimento
E ela não falta, sim, a vejo!
E, agora sim, me contento.
Meu último primeiro beijo.


quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Vivamos (Augusto Simões)


Vivemos o que é leve
O que é de gosto
O que dá gosto de viver

Vivemos a vida breve
Sem qualquer esforço
Sem fazer força pra viver

Vivemos o que nos serve
Só o que nos cabe
E, se não couber, pra que viver?

Vivemos o que se deve
Só o que se sabe
E pra saber, é bom viver.

Como Era Antes (Talytha Rocha)


Canta, fala floreada
Junto à minha nuca
Teus desejos mais profundos
Conta-me inverdades como nunca
Na minha pele
Teu prazer – um mundo.
Sorri minha carne
Rega o meu amor
Afaga-me e faz-se de ator
Como se inda fossemos amantes.

Tudo como era antes.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Posto Virgula (Augusto Simões)


Posto ponto
Findo frases
Faço fins
Passo o ponto.

Posto reticências
Retorno, paro
Penso, reparo
Rumo para...

Posto virgula
Pauso veloz
Procuro, vejo e...
Pronto, voltei,

domingo, 17 de agosto de 2008

Miedo (Lenine)



Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão

O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá

Dialética (Vinícius de Moraes)



É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Bela Vida Vazia (Augusto Simões)


Sorria alegremente.

Não tens mais peso nas costas ou a quem dar atenção
Não tens sequer responsabilidades com pessoa qualquer
Não tens nada que te prenda ou te controle, individuo

Sorria felizmente

Não há motivos para a tal tristeza nesse momento
Quão leve pode ser a liberdade de só ter nada
Sem razões, sentimentos, lucidez, sem virtudes

Sorria tristemente

Pois não há tão só alma a vagar nesse mundo
És fruto absurdo do resultado de si mesmo
Mais triste, só e isolado que podes agüentar

Sorria amargamente

Pois ninguém nesse mundo foi feito pra te entender
E suas falhas levantarão vozes, diferentemente de seus feitos
E não poderás errar, pobre criatura infame

Agora chora alegremente se conseguir.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Coito (Ferreira Gullar)

Todos os movimentos

do amor

são noturnos

mesmo quando praticados

à luz do dia


Vem de ti o sinal

no cheiro ou no tato

que faz acordar o bicho

em seu fosso:

na treva, lento,

se desenrola

e desliza

em direção a teu sorriso


Hipnotiza-te

com seu guizo

envolve-te

em seus anéis

corredios

beija-te

a boca em flor

e por baixo

com seu esporão

te fende te fode

e se fundem

no gozo

depois

desenfia-se de ti

a teu ladona cama

recupero a minha forma usual

Bom Fim (Augusto Simões)




E se o amor não vingasse? E se sumisse o amor? E fosse aonde fosse, ele se escondesse? Onde haveria de ir o amor? Será que entre outros ou sumiria de vez? Partido, o amor se soltaria no mundo em pedaços e sumiria daqui. O amor evaporaria e se iria aos ventos, como um vírus, assim seria o amor. Não seria mais nosso. O amor seria daquele que o respirasse. E nosso adeus ao amor seria o fim de nós. O início de outros. Então, só assim, não seria ruim o fim do nosso amor.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Nuca (Augusto Simões)






A nuca. Sim a nuca é algo inexplicável. É como um sensibilizador, o lugar onde tudo se inicia. Os olhos se observam, e aprovam o gesto. Dada a autorização, uma das mãos, levemente, sem pressa, vai ao encontro do rosto. Quem chega primeiro, é claro, são as pontas dos dedos que deslizam suavemente sobre a pele da bochecha. E de lá caminham até seu destino final. Ao passarem o médio, indicador e anular, algumas vezes também o mindinho, chega o polegar. Os três primeiros já estão por trás da orelha enquanto o polegar, fazendo-se de bobo, “tenta” livrar-se dos lábios para seguir o caminho dos outros dedos. Os lábios se movem, os olhos se fecham como num suspiro. O caminho está levando ao fim desejado. Já se pode sentir as primeiras curvas da nuca. O polegar torna a movimentar-se, de forma harmoniosa, pela face. As pontas dos dedos começam a se confundir com os cabelos. O menor dos dedos, num esforço tremendo, tenta alcançar a outra extremidade do pescoço enquanto, não mais só as pontas dos dedos, mas todos seus corpos penetram no espaço dos cabelos e se confundem com eles. A palma da mão toma o espaço que pode no pescoço. Aquecendo e acariciando este. Os lábios se encontram. Os olhos se fecham. Um corpo amolece enquanto outro o conforta, acaricia, deleita-se com o momento. Ambos se entregam ao gesto, ao momento, à tudo aquilo. Eis o beijo. Eis a nuca.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Rosa dos Ventos (Chico Buarque)



E do amor gritou-se o escândaloDo medo criou-se o trágico

No rosto pintou-se o pálido

E não rolou uma lágrima

Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão

Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Inerte (Augusto Simões)




.

Seco
Inerte

Seguindo
Inerte

Sigo
Inerte

Cego.
Inerte

Merda!
Inerte
.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Falso Brilho (Talytha Rocha)





Noites vazias de bares lotados
Valores trocados e verdades não ditas
A vida escondida entre meio-termos
Revela o buraco das almas perdidas.

Mundanismo de iludidos senhoris
Julgam o brilho douro fazedor da alegria
Saberão - Talvez, um dia
Que o tosco aí faz moradia.

Enviesada
E com uma pitada de drama
Recosto minha orelha na concha da trama
À beira mar para relembrar os valiosos tempos de criança.

Passagem (Augusto Simões)


Caso chegasse como viesse,
Quem dera que partisse de onde fosse
Que me ouvisse ou me falasse
O que fosse triste ou mesmo doce

Se me viesse como chegasse,
Que somente fosse quando partisse
E me falasse e ouvisse...
Mesmo que nada doce, o que fosse triste.

Se me fosse quando partisse
Que me chegasse como viesse
Fosse doce ou triste
Mesmo que nada falasse ou ouvisse

Mas partiste quando foste
Pois vieste e te chegaste
Hora doce, hora triste
E, de tanto que falaste, nada ouviste.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Teríamos (Augusto Simões)



Como não se tem mais
Não me tens
Não te tenho
Não nos temos
Mas, teremos
Sim, teremos
Os teremos
Nos teremos
Não teremos
Sim, teríamos
Se teríamos
E como teríamos
Mas, não temos
Não, não temos
Não, teríamos
Não tivemos
Não, não nos tivemos

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Luiza (Tom Jobim)


Lua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

Eu Sei Que Vou Te Amar (Vinicius de Moraes)


Eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida eu vou te amar

A cada despedida eu vou te amar

DesesperadamenteEu sei que eu vou te amar

E cada verso meu será pra te dizer

Que eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar

A cada ausência tua eu vou chorar

Mas cada volta tua há de apagar

O que essa ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer

A eterna desventura de viver

A espera de viver ao lado teu

Por toda a minha vida

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa (Álvaro de Campos)




Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Clarice Lispector


“Não te amo mais.

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

EU TE AMO!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais…”

Canção Para Clarear (Augusto Simões)






É como andar num lugar sem pisar
...Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...
...Que coloriu...


Com amigos, viagens, amores...
...Que há de fazer...
...Pessoas felizes por onde quer que passar...
...Sempre haverá novos braços para abraçar.


É como andar num lugar sem pisar
...Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...
...Que coloriu...

Um céu de estrelas cadentes pra desejar...
... Um mundo bonito e alegre pra se morar...
... Em seu coração, que é enorme, é só pedir...
... Sorrisos sinceros e então logo abrirá.

É como andar num lugar sem pisar...
...Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...
...Que coloriu...

Esta canção é a forma que eu tenho...
... Pra te dizer...
... Quanto aprendi sobre o amor graças a você.
Espero um dia voltar a te encontrar...
...E assim quem sabe meu mundo vai clarear.

Esta canção é a forma que eu tenho...
... Pra te dizer...
... Quanto aprendi sobre o amor...

Esta canção é a forma que eu tenho...
... Pra te dizer...
... Que eu aprendi que amar

...É como andar num lugar sem pisar...
Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...

... A colorir...

Flor (Augusto Simões)


Lá vem ela, a flor.

Olha como está

Rosa, iluminada

Encontrando razões pra sonhar

Nossa, cheira bem.

Algum dia eu vou

Beijar, abraçar

A florzinha sem a machucar

Inocente oh! flor

Longe do habitat

Ávida de conhecer

Razões para se amar

Imensa estrada a correr

Nesse caminho a trilhar

Animada vai

Doce a encantar

Povos e poetas

Astros, estrelas, luar.

Novamente vai

Olhar para mim


Lá vem ela, aquela flor.

Olha só como ela está

Rosa, iluminada

Encontrando razões pra sonhar

terça-feira, 29 de julho de 2008

Só Melancolía Moribunda Meu Amor (Augusto Simões)




Não me ame. Não sou amável, não sou amado. Sem amor. Sem amabilidades. Não amo. Não gosto de amar. Não sei o que é o amor. Não sou amante. Não sou quem ama. Mas o amor me ama. E amar não é de mim. Não amo. Não sou amável e o amor me ama. Ama como se nem sei do amor? Ama-me assim mesmo e eu nem amo o amor. Não me ame. Sem amabilidades, sem mimos, sem mais. Só não ame. Amar mata. Amar quase me mata. Amor é morte e morte é o que não se vê no amor. Amei. Não amo mais. Sem mais amor. Sem mais a morte. Sou mais minha melancolía moribunda e esmigalhada de memórias de amor. Amor? Na memória é o bastante. Não me ame. Não sou amável. Já quase morri pelo amor. Não amo mais. Não me ame.

Até mais (Augusto Simões)





Deixa estes profundos olhos secos de emoção e que tanto me acobertaram de carinho. Ou deveria eu estar carente e, assim, qualquer demonstração de afetou tornou-me observador mais sensível da humanidade.

Era sim um olhar seco, que me acalentava e aceitava minhas palavras e meus afetos. Durante três dias o vi. No primeiro parecia meio embaçado, era bonito assim mesmo, mesmo que distorcido, mesmo que distante e não bem, lembrado, era belo. Até que na segunda vista tudo já era mais claro. Os olhos transpirando sorriso e num olhar fundo nos meus mostrou-me que me percebia. Sim, eu já pensava naqueles olhos bem antes deles me reconhecerem a primeira vez. Ou era o que imaginava. Mas fui visto e notado assim como reciprocamente cumprimentei. Breves e verdadeiros sorrisos, breves palavras, grande afeição.

No terceiro já não pude evitar. Aproximei-me tanto que os olhos se fecharam e já não pude vê-los por instantes. Mas, intrigantemente, os sentia melhor que nunca. Aquele olhar tornou-se carinho, tornou-se pele e afeto, tornou-se beijo e abraço. Aquele carinho tornou-se uma noite e um amanhecer do dia onde não pudemos ver o sol. Só poderíamos ver pelo tato, pelo cheiro e pela claridade que atravessava nossas pálpebras. Seus braços foram se afastando aos poucos. Mas seus olhos, mesmo quando se ia, ainda me traziam aquele olhar. Foram os últimos a se afastar.

Cantiga para não morrer (Ferreira Gullar)




Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Sou Mulher Ideal (Augusto Simões)




Um homem que me encontra já troca de passo
Desacelera, olhando de lado,
Finge amarrando o cadarço
Sai do samba, muda o compasso
E se peço diz logo: “Faço”

Um homem que me encontra já muda de vida
Larga o jogo, fica em fila
Preocupa-se com a família
Passa a comprar roupa fina
E, agora na valsa, não desafina

Um homem que me encontra já sabe o que tem
Quando se acorda tem um bem
Antes do sono, a mais de cem
No churrasco não fica sem
Futebol ou ensaio pro neném?

E quem resiste?

Procura-se (Augusto Simões)

Já fui passageiro Daqueles ligeiros Um erro, uma garfe Por onde passei Fui até parceiro Um bom cavalheiro Já fui tão eterno Mas não demorei Faltava uma coisa Faltou-me uma moça E ainda me falta Só resta esperar Não importa se branda Mesmo até que turva Sem muitos espinhos Pra não machucar Nem me falta coragem Como malandragem Sobram-me poemas Para te escrever Meus versos se fazem Cheios de vontade De que uma pequena Possa me querer

Olhos Nossos (Augusto Simões)




Quando teus olhos me enxergam
Teus olhos não negam
Precisam dos meus

E se teus olhos se entregam
Teus olhos me cegam
Se perdem os meus

Depois meus olhos confusos
Se alternam em turnos
Pra não te perder

Olham, sempre bem seguros
Teus olhos escuros
Sem nem se mexer

Quando teus olhos me pegam
Teus olhos sossegam
Já não correm mais

E se teus olhos sossegam
Teus olhos me pegam
E não tenho paz

Depois meus olhos felizes
Bem como aprendizes
Decifram os teus

Lendo tudo que eles dizem
Já sei que eles vivem
Para os olhos meus

Morena (Augusto Simões)


Olha os cachinhos da morena
Balançam se venta
Alegres demais

Olha os olhinhos da morena
Felizes que encantam
Qualquer coração

Olha os pezinhos da morena
Dançando se perdem
Pulando demais

Olha o narizinho da morena
Pra cima conquista
Qualquer coração

Olha o sorrisinho da morena
É tão cativante
Sorrindo demais

Olha o quadril da morena
Que hipnotiza
Qualquer coração

Olha a pele da morena
Que é tão lisinha
Bonita demais

Olha o jeitinho da morena
Que assim conquistou
O meu coração

Eras demais (Augusto Simões)


Esperei tanto que foste quem eras
E, de tanto que foste tu mesma, foste demais
Por demais mais ser-te, te vi além do que eras
Portanto eras tu. Só tu. Porque és simples demais
E aos poucos achei quem tanto eras
Sim, a imagem que tanto foi. Mesmo que nada demais
Por fim, agora, somente eras
Mesmo porque, pra mim, já foste demais

Tonta (Augusto Simões)




Não te demora tanto moça
Tonta, não vês que tento tonta!
Torno, teu, e tento outra
Topas meu bem, também toda

Topas de um tudo, louca
Tens tênto só se se toma
Não têma; tropeçou tonta
Traga tudo, dama, pela boca

Tua toca, teu lar, casa
Tenta ter-me todo, tola
Troca tuas trancas, solta
Tenta criar tuas asas

Tênua, troca as pernas
Tropeça, trilha a corda
Tateia, tonta, traga, torta
Trebata e tonta te entregas

Monólogo (Chico Anísio)


Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio -- maior maldade mundial.


Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matumbo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.


Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, marafonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas.


Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, mercedes, motorista, mãos... Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meiágua, menos, marquise.


Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

Casa comigo (Michel Melamed)

Casa comigo
Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo
A mais linda, a mais amada, respeitada, cuidada,
A mais bem comida
E a pessoa mais namorada do mundo
E a mais casada
A mais festas , viagens, jantares
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais realizada profissionalmente
E a mais grávida, e a mais mãe
E a pessoa mais as primeiras discussões
A pessoa mais novas brigas, e as discussões de sempre
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais separada do mundo
A pessoa mais solitária com um filho pra criar de todas
A mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima
A mais conheceu uma nova pessoa
A mais se apaixonou novamente
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais..
Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo

,. (Augusto Simões)




ponto e vírgula