terça-feira, 21 de junho de 2011

Fado Tropical (Chico Buarque e Ruy Guerra)







Oh, musa do meu fado,
Oh, minha mãe gentil,
Te deixo consternado
No primeiro abril,

Mas não sê tão ingrata!
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga,
Alecrins no canavial,
Licores na moringa:
Um vinho tropical.
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo...
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa".

Guitarras e sanfonas,
Jasmins, coqueiros, fontes,
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo...
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um império colonial!
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um império colonial!

Menina, Deixa Estar (Augusto Simões)


Ah, menina

Deixa esse povo de lado e vem pra cá

Menina

Que não há nada de errado em se gostar


Mas menina

Tudo que a gente precisa é só se dar

Não reprima

Toda essa sua vontade, deixa estar


Vai

Ouve o coração

E deixa a razão

Que não quer gostar

Vai

Deixa a emoção

No diapasão

Do seu bem-estar

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Piegas (Augusto Simões)


Não me ignore
Não adore
Nem me implore
Só diga que sim, gosta
Se, de fato, gostar

Não me amole
Sou mole
Não me enrole
Se me disser que gosta
Posso acreditar

Não faço média
Sem rédeas
E sem comédias
Leio até enciclopédias
Para me declarar

Se não te cabes
Te abres
Eu movo mares
Canto por todos bares
Só pra te cortejar

E se revelas
Te entregas
Fico piegas
Faço milhões promessas
Que vou mesmo honrar

E quando juntos
Absurdos
Absolutos
Seremos um conjunto
Que não vai se separar