quinta-feira, 31 de julho de 2008

Teríamos (Augusto Simões)



Como não se tem mais
Não me tens
Não te tenho
Não nos temos
Mas, teremos
Sim, teremos
Os teremos
Nos teremos
Não teremos
Sim, teríamos
Se teríamos
E como teríamos
Mas, não temos
Não, não temos
Não, teríamos
Não tivemos
Não, não nos tivemos

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Luiza (Tom Jobim)


Lua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

Eu Sei Que Vou Te Amar (Vinicius de Moraes)


Eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida eu vou te amar

A cada despedida eu vou te amar

DesesperadamenteEu sei que eu vou te amar

E cada verso meu será pra te dizer

Que eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar

A cada ausência tua eu vou chorar

Mas cada volta tua há de apagar

O que essa ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer

A eterna desventura de viver

A espera de viver ao lado teu

Por toda a minha vida

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa (Álvaro de Campos)




Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Clarice Lispector


“Não te amo mais.

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

EU TE AMO!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais…”

Canção Para Clarear (Augusto Simões)






É como andar num lugar sem pisar
...Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...
...Que coloriu...


Com amigos, viagens, amores...
...Que há de fazer...
...Pessoas felizes por onde quer que passar...
...Sempre haverá novos braços para abraçar.


É como andar num lugar sem pisar
...Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...
...Que coloriu...

Um céu de estrelas cadentes pra desejar...
... Um mundo bonito e alegre pra se morar...
... Em seu coração, que é enorme, é só pedir...
... Sorrisos sinceros e então logo abrirá.

É como andar num lugar sem pisar...
...Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...
...Que coloriu...

Esta canção é a forma que eu tenho...
... Pra te dizer...
... Quanto aprendi sobre o amor graças a você.
Espero um dia voltar a te encontrar...
...E assim quem sabe meu mundo vai clarear.

Esta canção é a forma que eu tenho...
... Pra te dizer...
... Quanto aprendi sobre o amor...

Esta canção é a forma que eu tenho...
... Pra te dizer...
... Que eu aprendi que amar

...É como andar num lugar sem pisar...
Em um mundo seu...
...Mar é repleto de cores...

... A colorir...

Flor (Augusto Simões)


Lá vem ela, a flor.

Olha como está

Rosa, iluminada

Encontrando razões pra sonhar

Nossa, cheira bem.

Algum dia eu vou

Beijar, abraçar

A florzinha sem a machucar

Inocente oh! flor

Longe do habitat

Ávida de conhecer

Razões para se amar

Imensa estrada a correr

Nesse caminho a trilhar

Animada vai

Doce a encantar

Povos e poetas

Astros, estrelas, luar.

Novamente vai

Olhar para mim


Lá vem ela, aquela flor.

Olha só como ela está

Rosa, iluminada

Encontrando razões pra sonhar

terça-feira, 29 de julho de 2008

Só Melancolía Moribunda Meu Amor (Augusto Simões)




Não me ame. Não sou amável, não sou amado. Sem amor. Sem amabilidades. Não amo. Não gosto de amar. Não sei o que é o amor. Não sou amante. Não sou quem ama. Mas o amor me ama. E amar não é de mim. Não amo. Não sou amável e o amor me ama. Ama como se nem sei do amor? Ama-me assim mesmo e eu nem amo o amor. Não me ame. Sem amabilidades, sem mimos, sem mais. Só não ame. Amar mata. Amar quase me mata. Amor é morte e morte é o que não se vê no amor. Amei. Não amo mais. Sem mais amor. Sem mais a morte. Sou mais minha melancolía moribunda e esmigalhada de memórias de amor. Amor? Na memória é o bastante. Não me ame. Não sou amável. Já quase morri pelo amor. Não amo mais. Não me ame.

Até mais (Augusto Simões)





Deixa estes profundos olhos secos de emoção e que tanto me acobertaram de carinho. Ou deveria eu estar carente e, assim, qualquer demonstração de afetou tornou-me observador mais sensível da humanidade.

Era sim um olhar seco, que me acalentava e aceitava minhas palavras e meus afetos. Durante três dias o vi. No primeiro parecia meio embaçado, era bonito assim mesmo, mesmo que distorcido, mesmo que distante e não bem, lembrado, era belo. Até que na segunda vista tudo já era mais claro. Os olhos transpirando sorriso e num olhar fundo nos meus mostrou-me que me percebia. Sim, eu já pensava naqueles olhos bem antes deles me reconhecerem a primeira vez. Ou era o que imaginava. Mas fui visto e notado assim como reciprocamente cumprimentei. Breves e verdadeiros sorrisos, breves palavras, grande afeição.

No terceiro já não pude evitar. Aproximei-me tanto que os olhos se fecharam e já não pude vê-los por instantes. Mas, intrigantemente, os sentia melhor que nunca. Aquele olhar tornou-se carinho, tornou-se pele e afeto, tornou-se beijo e abraço. Aquele carinho tornou-se uma noite e um amanhecer do dia onde não pudemos ver o sol. Só poderíamos ver pelo tato, pelo cheiro e pela claridade que atravessava nossas pálpebras. Seus braços foram se afastando aos poucos. Mas seus olhos, mesmo quando se ia, ainda me traziam aquele olhar. Foram os últimos a se afastar.

Cantiga para não morrer (Ferreira Gullar)




Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Sou Mulher Ideal (Augusto Simões)




Um homem que me encontra já troca de passo
Desacelera, olhando de lado,
Finge amarrando o cadarço
Sai do samba, muda o compasso
E se peço diz logo: “Faço”

Um homem que me encontra já muda de vida
Larga o jogo, fica em fila
Preocupa-se com a família
Passa a comprar roupa fina
E, agora na valsa, não desafina

Um homem que me encontra já sabe o que tem
Quando se acorda tem um bem
Antes do sono, a mais de cem
No churrasco não fica sem
Futebol ou ensaio pro neném?

E quem resiste?

Procura-se (Augusto Simões)

Já fui passageiro Daqueles ligeiros Um erro, uma garfe Por onde passei Fui até parceiro Um bom cavalheiro Já fui tão eterno Mas não demorei Faltava uma coisa Faltou-me uma moça E ainda me falta Só resta esperar Não importa se branda Mesmo até que turva Sem muitos espinhos Pra não machucar Nem me falta coragem Como malandragem Sobram-me poemas Para te escrever Meus versos se fazem Cheios de vontade De que uma pequena Possa me querer

Olhos Nossos (Augusto Simões)




Quando teus olhos me enxergam
Teus olhos não negam
Precisam dos meus

E se teus olhos se entregam
Teus olhos me cegam
Se perdem os meus

Depois meus olhos confusos
Se alternam em turnos
Pra não te perder

Olham, sempre bem seguros
Teus olhos escuros
Sem nem se mexer

Quando teus olhos me pegam
Teus olhos sossegam
Já não correm mais

E se teus olhos sossegam
Teus olhos me pegam
E não tenho paz

Depois meus olhos felizes
Bem como aprendizes
Decifram os teus

Lendo tudo que eles dizem
Já sei que eles vivem
Para os olhos meus

Morena (Augusto Simões)


Olha os cachinhos da morena
Balançam se venta
Alegres demais

Olha os olhinhos da morena
Felizes que encantam
Qualquer coração

Olha os pezinhos da morena
Dançando se perdem
Pulando demais

Olha o narizinho da morena
Pra cima conquista
Qualquer coração

Olha o sorrisinho da morena
É tão cativante
Sorrindo demais

Olha o quadril da morena
Que hipnotiza
Qualquer coração

Olha a pele da morena
Que é tão lisinha
Bonita demais

Olha o jeitinho da morena
Que assim conquistou
O meu coração

Eras demais (Augusto Simões)


Esperei tanto que foste quem eras
E, de tanto que foste tu mesma, foste demais
Por demais mais ser-te, te vi além do que eras
Portanto eras tu. Só tu. Porque és simples demais
E aos poucos achei quem tanto eras
Sim, a imagem que tanto foi. Mesmo que nada demais
Por fim, agora, somente eras
Mesmo porque, pra mim, já foste demais

Tonta (Augusto Simões)




Não te demora tanto moça
Tonta, não vês que tento tonta!
Torno, teu, e tento outra
Topas meu bem, também toda

Topas de um tudo, louca
Tens tênto só se se toma
Não têma; tropeçou tonta
Traga tudo, dama, pela boca

Tua toca, teu lar, casa
Tenta ter-me todo, tola
Troca tuas trancas, solta
Tenta criar tuas asas

Tênua, troca as pernas
Tropeça, trilha a corda
Tateia, tonta, traga, torta
Trebata e tonta te entregas

Monólogo (Chico Anísio)


Mundo moderno, marco malévolo, mesclando mentiras, modificando maneiras, mascarando maracutaias, majestoso manicômio. Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres, miscigenação, morticínio -- maior maldade mundial.


Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna. Monta matumbo malhado munindo machado, martelo, mochila murcha, margeia mata maior. Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira, mandioca. Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho. Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena, momento maravilha, motivação mútua, mas monocórdia mesmice. Muitos migram, macilentos, maltrapilhos. Morarão modestamente, malocas metropolitanas, mocambos miseráveis. Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo. Metade morre.


Mundo maligno, misturando mendigos maltratados, menores metralhados, militares mandões, meretrizes, marafonas, mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente, modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas.


Mundo medíocre. Milionários montam mansões magníficas: melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo, mercedes, motorista, mãos... Magnatas manobrando milhões, mas maioria morre minguando. Moradia meiágua, menos, marquise.


Mundo maluco, máquina mortífera. Mundo moderno, melhore. Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo. Merecemos. Maldito mundo moderno, mundinho merda.

Casa comigo (Michel Melamed)

Casa comigo
Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo
A mais linda, a mais amada, respeitada, cuidada,
A mais bem comida
E a pessoa mais namorada do mundo
E a mais casada
A mais festas , viagens, jantares
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais realizada profissionalmente
E a mais grávida, e a mais mãe
E a pessoa mais as primeiras discussões
A pessoa mais novas brigas, e as discussões de sempre
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais separada do mundo
A pessoa mais solitária com um filho pra criar de todas
A mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima
A mais conheceu uma nova pessoa
A mais se apaixonou novamente
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais..
Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo

,. (Augusto Simões)




ponto e vírgula