domingo, 31 de agosto de 2008

Talvez Seja Por Isso Que Não Te Vejo Mais (Augusto Simões)


Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Detive todo meu pensamento em você
Estive composto e disposto pra você
Mas, não é bem por isso que não te vejo mais.

Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Todo meu suado esforço foi por você
Cada palavra, cada verso veio de você
Mas, não é bem por isso que não te vejo mais.

Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Fui ausente de mim quando sem você
Fui presente só quando estive com você
Mas, não foi bem por isso que não te vejo mais.

Talvez seja por isso que não te vejo mais.
Nunca nem ousaria em deixar você
E não deveria me arriscar e voltar a você
Mas, é sim, bem... por isso que não te vejo mais.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Agora Somos (Augusto Simões)




Ela me lê,
Eu a leio,
Interpretamo-nos, então.
Ela da sua forma,
Eu da minha forma,
Ela, então me forma, sob sua visão,
E eu, faço o mesmo.
Achamos, imaginamos,
Deformamo-nos na forma que achamos correta.
E nos formamos, nos fazemos, aos poucos.
E, aos poucos, tomamos formas novas,
Transformamo-nos, um ao outro,
E formamos um só, agora.
E, agora, nos lemos,
De várias formas,
Sem fôrmas,
Formando-nos,
Deformando-nos,
Transformando-nos,
Pois agora somos.

sábado, 23 de agosto de 2008

Meu Último Primeiro Beijo (Augusto Simões)


Por hora contemplo
E somente, quieto, a vejo
Passa, leve, o tempo
Friozinho na barriga, desejo

Uma vez, eu tento
Me tremem as pernas, almejo
Ainda me sustento
Ela corresponde e sim, festejo

Converso atento
E pouco a pouco, histórias, manejo
Convido, sento
Outra vez aceita, palpito, pelejo

Sorrisos, lamentos
Romances contados sem ensejo
Marcamos outro momento
Passam dias e horas, anseio

Enfim o acontecimento
E ela não falta, sim, a vejo!
E, agora sim, me contento.
Meu último primeiro beijo.


quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Vivamos (Augusto Simões)


Vivemos o que é leve
O que é de gosto
O que dá gosto de viver

Vivemos a vida breve
Sem qualquer esforço
Sem fazer força pra viver

Vivemos o que nos serve
Só o que nos cabe
E, se não couber, pra que viver?

Vivemos o que se deve
Só o que se sabe
E pra saber, é bom viver.

Como Era Antes (Talytha Rocha)


Canta, fala floreada
Junto à minha nuca
Teus desejos mais profundos
Conta-me inverdades como nunca
Na minha pele
Teu prazer – um mundo.
Sorri minha carne
Rega o meu amor
Afaga-me e faz-se de ator
Como se inda fossemos amantes.

Tudo como era antes.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Posto Virgula (Augusto Simões)


Posto ponto
Findo frases
Faço fins
Passo o ponto.

Posto reticências
Retorno, paro
Penso, reparo
Rumo para...

Posto virgula
Pauso veloz
Procuro, vejo e...
Pronto, voltei,

domingo, 17 de agosto de 2008

Miedo (Lenine)



Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão

O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá

Dialética (Vinícius de Moraes)



É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Bela Vida Vazia (Augusto Simões)


Sorria alegremente.

Não tens mais peso nas costas ou a quem dar atenção
Não tens sequer responsabilidades com pessoa qualquer
Não tens nada que te prenda ou te controle, individuo

Sorria felizmente

Não há motivos para a tal tristeza nesse momento
Quão leve pode ser a liberdade de só ter nada
Sem razões, sentimentos, lucidez, sem virtudes

Sorria tristemente

Pois não há tão só alma a vagar nesse mundo
És fruto absurdo do resultado de si mesmo
Mais triste, só e isolado que podes agüentar

Sorria amargamente

Pois ninguém nesse mundo foi feito pra te entender
E suas falhas levantarão vozes, diferentemente de seus feitos
E não poderás errar, pobre criatura infame

Agora chora alegremente se conseguir.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Coito (Ferreira Gullar)

Todos os movimentos

do amor

são noturnos

mesmo quando praticados

à luz do dia


Vem de ti o sinal

no cheiro ou no tato

que faz acordar o bicho

em seu fosso:

na treva, lento,

se desenrola

e desliza

em direção a teu sorriso


Hipnotiza-te

com seu guizo

envolve-te

em seus anéis

corredios

beija-te

a boca em flor

e por baixo

com seu esporão

te fende te fode

e se fundem

no gozo

depois

desenfia-se de ti

a teu ladona cama

recupero a minha forma usual

Bom Fim (Augusto Simões)




E se o amor não vingasse? E se sumisse o amor? E fosse aonde fosse, ele se escondesse? Onde haveria de ir o amor? Será que entre outros ou sumiria de vez? Partido, o amor se soltaria no mundo em pedaços e sumiria daqui. O amor evaporaria e se iria aos ventos, como um vírus, assim seria o amor. Não seria mais nosso. O amor seria daquele que o respirasse. E nosso adeus ao amor seria o fim de nós. O início de outros. Então, só assim, não seria ruim o fim do nosso amor.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Nuca (Augusto Simões)






A nuca. Sim a nuca é algo inexplicável. É como um sensibilizador, o lugar onde tudo se inicia. Os olhos se observam, e aprovam o gesto. Dada a autorização, uma das mãos, levemente, sem pressa, vai ao encontro do rosto. Quem chega primeiro, é claro, são as pontas dos dedos que deslizam suavemente sobre a pele da bochecha. E de lá caminham até seu destino final. Ao passarem o médio, indicador e anular, algumas vezes também o mindinho, chega o polegar. Os três primeiros já estão por trás da orelha enquanto o polegar, fazendo-se de bobo, “tenta” livrar-se dos lábios para seguir o caminho dos outros dedos. Os lábios se movem, os olhos se fecham como num suspiro. O caminho está levando ao fim desejado. Já se pode sentir as primeiras curvas da nuca. O polegar torna a movimentar-se, de forma harmoniosa, pela face. As pontas dos dedos começam a se confundir com os cabelos. O menor dos dedos, num esforço tremendo, tenta alcançar a outra extremidade do pescoço enquanto, não mais só as pontas dos dedos, mas todos seus corpos penetram no espaço dos cabelos e se confundem com eles. A palma da mão toma o espaço que pode no pescoço. Aquecendo e acariciando este. Os lábios se encontram. Os olhos se fecham. Um corpo amolece enquanto outro o conforta, acaricia, deleita-se com o momento. Ambos se entregam ao gesto, ao momento, à tudo aquilo. Eis o beijo. Eis a nuca.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Rosa dos Ventos (Chico Buarque)



E do amor gritou-se o escândaloDo medo criou-se o trágico

No rosto pintou-se o pálido

E não rolou uma lágrima

Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão

Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Inerte (Augusto Simões)




.

Seco
Inerte

Seguindo
Inerte

Sigo
Inerte

Cego.
Inerte

Merda!
Inerte
.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Falso Brilho (Talytha Rocha)





Noites vazias de bares lotados
Valores trocados e verdades não ditas
A vida escondida entre meio-termos
Revela o buraco das almas perdidas.

Mundanismo de iludidos senhoris
Julgam o brilho douro fazedor da alegria
Saberão - Talvez, um dia
Que o tosco aí faz moradia.

Enviesada
E com uma pitada de drama
Recosto minha orelha na concha da trama
À beira mar para relembrar os valiosos tempos de criança.

Passagem (Augusto Simões)


Caso chegasse como viesse,
Quem dera que partisse de onde fosse
Que me ouvisse ou me falasse
O que fosse triste ou mesmo doce

Se me viesse como chegasse,
Que somente fosse quando partisse
E me falasse e ouvisse...
Mesmo que nada doce, o que fosse triste.

Se me fosse quando partisse
Que me chegasse como viesse
Fosse doce ou triste
Mesmo que nada falasse ou ouvisse

Mas partiste quando foste
Pois vieste e te chegaste
Hora doce, hora triste
E, de tanto que falaste, nada ouviste.