quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sem Adeus Apenas (Augusto Simões)

Hoje te deixo ir, com o coração sofrido

Uma liberdade imensa, uma ânsia pelo desconhecido

Uma vontade de viver, uma vontade de ter vivido

Uma verdade intensa, depois de sucumbido

Tanta vida que há fora e eu morto, contigo

Deixo que vás embora, mesmo se fosse comigo

Vou sem mais demoras, rumo ao tal destino

Que já conheci outrora, mas foi tão frio amigo

Vou respirar a aurora que já inspirei assíduo

Vou aceitar as horas onde me encontrar perdido

E te farei senhora, apenas do teu destino

E me farei, agora, jamais teu inimigo

Mas me farei por hora, seu velho conhecido

Até que chegues, senhora, num lugar que faz sentido

Posto que de fora, já nem serei mais teu amigo

Então choro por fora, pois por dentro fui destruído

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Samba da Volta (Augusto Simões)




Essa noite eu sofri
Você não me ligou
Essa noite eu sorri
Pois lembrei de um amor
Um amor tão sem fim
Mas que, enfim, acabou
Eu que tanto senti
Tenha pena de mim
Volta aqui, minha flor

Essa noite eu saí
Me joguei pelo mundo
Hoje eu até morri
E bebi moribundo
Eu até insisti
Em sorrir para o mundo
Mas não pude te ouvir
Me prestei a cair
Nesse sono profundo

Outro dia te vi
Caminhar ao meu lado
Eu já fui tão feliz
Hoje vivo de lado
Tentei até subir
Logo fui derrubado
Não consigo crescer
Nem consigo sentir
Se não for ao seu lado

Volta logo pra mim
Diz o quanto me ama
Sei que longe daqui
Tanto choro derrama
Sim, confesse, enfim
Que seu coração clama
Que não seja o fim
Volta logo pra mim
O meu peito te chama

domingo, 18 de setembro de 2011

Quem foi você? (Augusto Simões)



Por favor, esqueça de mim

Esqueça também do tal “sim”

Que um dia você me deu


Por que serás mais feliz

Eu, nem tão feliz assim

Nem sei quanto me doeu


Saiba que não foi o fim

Pois nunca foi para mim

Pois nunca foi pra nós dois


Deixe o que eu sempre quis

Deixei de ser tão feliz

Por algo que nunca foi


Viva e esqueça de nós

Pois nunca que fomos sós

Nós nunca fomos


Apague o que escrevi

Não pense que já vivi

Pelos seus sonhos


Eu vou olhar para lá

E quando você chorar

Nem saberei o porquê


Saiba que quero chorar

Mas se meu peito apertar

Não vou te esquecer

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pedaços (Augusto Simões)




Tem um pedaço de mim que é parte de algo,

Tem um pedaço de algo que é parte de mim

Se partir um pedaço fico algo sem parte.

Se partir o pedaço, fico parte sem algo

E se o algo é a parte, falta sempre um pedaço

E se algo é o pedaço, falta sempre um parte

Mas se parte um pedaço, algo em mim parte

Pois se parte uma parte, me falta um pedaço

Mas se volta o pedaço, essa parte é inteira

E se volta essa parte, o pedaço é completo

Pois um pedaço ou parte passa a ser tudo

Quando uma parte ou pedaço não é partido.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Fado Tropical (Chico Buarque e Ruy Guerra)







Oh, musa do meu fado,
Oh, minha mãe gentil,
Te deixo consternado
No primeiro abril,

Mas não sê tão ingrata!
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga,
Alecrins no canavial,
Licores na moringa:
Um vinho tropical.
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo...
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!

"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa".

Guitarras e sanfonas,
Jasmins, coqueiros, fontes,
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo...
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um império colonial!
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:
Ainda vai tornar-se um império colonial!

Menina, Deixa Estar (Augusto Simões)


Ah, menina

Deixa esse povo de lado e vem pra cá

Menina

Que não há nada de errado em se gostar


Mas menina

Tudo que a gente precisa é só se dar

Não reprima

Toda essa sua vontade, deixa estar


Vai

Ouve o coração

E deixa a razão

Que não quer gostar

Vai

Deixa a emoção

No diapasão

Do seu bem-estar

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Piegas (Augusto Simões)


Não me ignore
Não adore
Nem me implore
Só diga que sim, gosta
Se, de fato, gostar

Não me amole
Sou mole
Não me enrole
Se me disser que gosta
Posso acreditar

Não faço média
Sem rédeas
E sem comédias
Leio até enciclopédias
Para me declarar

Se não te cabes
Te abres
Eu movo mares
Canto por todos bares
Só pra te cortejar

E se revelas
Te entregas
Fico piegas
Faço milhões promessas
Que vou mesmo honrar

E quando juntos
Absurdos
Absolutos
Seremos um conjunto
Que não vai se separar

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ontem, Hoje, Nunca Mais... (Augusto Simões)




Hoje, ela já não é a mesma

Passa o tempo e com certeza

Faz todo mundo mudar


Ontem, sofri até sem razão

Pensando na emoção

Que um dia já senti


Hoje ela já não é a mesma

Sim, manteve a beleza

Mas não sabe mais cantar


Ontem, amei até sem razão

E escrevi uma canção

Pra fazer ela sorrir


Hoje, ela já não é a mesma

Perdeu tanto da pureza

Que me ensinou a amar


Ontem, sorri até sem razão

Pois bastava a sensação

De vê-la, ali, dormir


Hoje, ela já não é a mesma

Perdeu aquela leveza

Perdeu o hábito de voar


Ontem, pulei até sem razão

Deixei minha solidão

Tive ela só pra mim


Hoje, ela já não é a mesma

Ela não é ela mesma

Virou alguém, sabe lá


Ontem, perdi até sem razão

Achei ser a solução

Mas foi ali que morri


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Samba da Possessiva (Augusto Simões)


É só ficar perto

Que já vou gostar

Se sai e não volta,

Morro de esperar

Aí, se demora,

Por que foi sair

Pra ser bem sincera,

Só quero pra mim

Eu quero atenção
demora um tempão
infelicidade, eu quero atenção
Não diga que não
pois nesse bordão...
acaba que perdes a minha atenção

Há cinco minutos

Não vejo você

Já corro pras fotos,

Preciso te ver

Bem sabe, não gosto,

Você por aí

E tudo que quero

É você pra mim

Eu quero atenção
demora um tempão
infelicidade, eu quero atenção
Não diga que não
pois nesse bordão...
acaba que perdes a minha atenção

Depois não me diga:

“Tas fria demais”

É todo meu charme

Você sabe o que faz

Não vem com conversa

De “não faz assim”

Só quero uma coisa

E é você pra mim.

domingo, 1 de maio de 2011

Certo ou Errado (Augusto Simões)




Parece tão incerto,
De certo modo,
Que aparenta até ser.

De certo é errado,
Mas se errado é incerto,
Certo pode ser errado.

Num certo modo,
De modo incerto,
Não é certo ou errado.