terça-feira, 28 de outubro de 2008

Coito (Augusto Simões)





Veste a roupa que lhe dei e passeia pelo quarto. De certo aprecia a vestimenta, trouxe algo sem folgas, pelo contrário, um ou dois números a menos, pressiona seu corpo, noto melhor suas curvas, mas não se incomoda, posto que já lhe é de hábito viver sob pressão, como se não bastasse as de praxe, as que lhe são postas goela abaixo, ainda se sufoca mais em vaidade. Não me acanho nos elogios, e mostro-lhe o quanto a admiro. Pesam-lhe as jóias nas orelhas, o colar, bem rente ao pescoço, atrapalha alguns movimentos enquanto reflete cada luz que se aproxima. Está radiante em seu vestido justo, novo, lhe apertando os quadris, mal lhe permite alguns movimentos. Ainda se enaltece em seus saltos, altos, com bicos finos, finos saltos altos onde ela flutua e desgasta suas pernas e sua postura. Admira a própria maquiagem, cobrindo seu rosto de branco, escurecendo os cílios, clareando a pele, escondendo as expressões, disfarçando o cansaço, pinta os lábios, colore seus tons, rosas, azuis, brancos, todos harmonicamente suaves. Eis que quando penso que acaba, torna à penteadeira e começa seu escultural penteado, dentre pentes e escovas, presilhas, adornos e tinturas se satisfaz. Então se enche de creme, se perfuma e me pergunta: “Onde vamos?”

Calo, a conduzo até o restaurante, peço um prato breve e levo-a de volta ao nosso lar. Pergunta-me então: “Por que tão breve?”

Respondo, enfim: “Pois estás vestida para o mundo, bela para os outros olhos, cheirosa para os outros perfumes. Agora quero-te especial para mim.”

Curiosa, me pergunta: “Como?”

Abro meu maior sorriso, a finto sem pudor e lhe falo em bom tom: “Despe-te e transpira.”

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tentativa de Soneto Mal Calculado (Augusto Simões)




Te amo assim como tenho dito,
assim como tenho mostrado,
assim como tenho provado
e bem sabes que eu não minto

Te amo assim como admito
que sempre tenho encontrado
todo o carinho, ao teu lado,
e tudo o que eu necessito

te amo mais a cada dia, querida
bem sabes o quanto te amo
sei, conheces bem meu amor

bem sabes, hoje, és minha vida
sei bem, também amas tanto
pois amamos assim, sem pudor

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Às Metáforas (Augusto Simões)


Ando meio romântico, admito
Mas não consigo usar tantas metáforas pra descrever
Então uso somente o que sinto
Não gosto de dar muitas voltas para me escrever

Não admiro metáforas, não as sinto
E uso muito de romantismo pra me descrever
Algumas vezes até dou voltas, admito
Mas não é por nada. É só porque sinto tanto quanto costumo escrever

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Por Onde Andas em Mim (Augusto Simões)




Pra onde eu olho te vejo
Quando me vejo te acho
Encontro-te em todo canto
Em olhos, olhares, olhadas
Acho-te, também, em mim
Pois te vejo parte de mim
Vejo-te em tudo que há
És presente em mim
Estás em tudo o que vejo
E me cerco de tu com prazer
Todo dia e o dia todo
Até que, enfim vejo-me em tu
Eu tu te vês em mim, nos vendo
O que faltava se completa
Completos, não vemos mais
Pois, agora, só sentimos
E fechamos os olhos