quarta-feira, 20 de abril de 2022

Doce

Abrem-se os olhos, cessam os sonhos sonhados, despertam os reais. 


A cada amargor, um doce. E quando o mundo torna-se amargo, a doçura me acorda para os detalhes. Quando o mundo exige o martelo e entrega-se a flor. Os poemas que comovem voltam, o olhar terno compromete os instintos de revanche. Dadas as melodias mais suaves, começa o cantarolar. Mesmo sem a letra, o som, mesmo simples, parece arrancar os horrores ao redor e limitar a visão para as gostas de chuva, o brilho do céu. Até arco-íris se formam.


A natureza nos mostra, desde sempre, que força e brutalidade, quando vindas dela, têm um propósito.  Logo, depois da tempestade, o céu parece dizer "passou, passou".


Plantamos para colher mais tarde. Jamais o tempo corre. O universo segue seu rumo. E quando todos se vão, ela volta. Em seu tempo. Pela flora, pela fauna.  Logo, tudo que foi destruído, logo é reposto em seu devido lugar. No ciclo. Dando e recebendo a proporção perfeita. Ficando quando é devido, morrendo quando não mais.


A natureza humana, rica e pobre, sofre pelos seus próprios instintos paradoxais. Somos coletores,  caçadores, carnívoros, herbívoros. Fomos adestrados a ser o que deveríamos estar. Somos movidos pela comida, pela sobrevivência. Contudo, não precisamos mais nos mover. A caça vem de criadouros,  matadouros, açougues.  A colheita de feiras, mercados.  Os valores já não são compreendidos. Os ciclos forçados. O natural, envenenado. Tudo em prol da produção de sobras. 


Pobres animais humanos sem bases, sem rumos. Pobres dos que se acham mais e,   em breve, se vão. O que é amável, fica.  O ciclo.  O início, o meio e o fim. 


A vida é composta de mortes. Nenhum caminho é diferente. Nada é alheio à tal lei da natureza. Dure muito ou pouco, belo é quando finda.


Ao poucos, vou me findando. Aos poucos vamos nos despedindo. As montes vivemos, quando resolvemos viver.  Apenas estar vivo,  não basta.


Aqui, um breve lembrete para o caso de, um dia, o tempo fechar, meu dia terminar e não houver mais rumo.


Serás enquanto fores!


Hoje, apenas doce, mas continuo humano.



Amargo


Abrem-se os olhos, cessam os pesadelos sonhados, despertam os reais. 

A cada doce, um amargor. E quando a predominância é do amargor? O livro que introduz o absurdo já não assusta tanto.  Palavras, contos, cantos, todos refletem o pior. Olho por olho, jamais gentileza gera gentileza. Bruto, selvagem seria se não fosse conscientemente racional.

Abandonamos a natureza,  logo depois, a humanidade e, mais atualmente,  a cordialidade.  Bom senso? Luxo. Educação? Frescura. Amor? Estupidez. Ou pior, amor torna-se moeda, obrigação, prisão, violência. 

Perdemos muito e vamos perdendo mais a cada dia. Uma aldeia global transformada em trincheiras. Um mundo globalizado se desune pelas diferenças, pelas opiniões e, até mesmo, opiniões sobre os fatos. A realidade não é mais real, mas. escolhida. Não olhamos nos olhos, mas as telas. Ficamos mais e mais distantes em presença e próximos em ódio. O ódio parece unir o mundo.  

O ser-humano, maior predados de si mesmo, torna-se ainda mais fatal. Já não são apenas pedras arremessadas, mas palavras que vão além da dor física. São frases (copiadas) que se projetam em direção ao desconhecido. O aleatório.  Palavras ditas quando sequer são compreendidas pelo emissor.

Um fim está próximo? Quisera fosse apenas um. Quem dera estivesse próximo. Tortura se mede pelo nível de sadismo. O fio não se rompe enquanto a crueldade o engrossa. "Minha realidade ou nenhuma realidade!", "Ame-o ou deixe-o!"

Não parece racional amar chão, amar um pano desenhado, amar um símbolo. O que gera felicidade? A opinião alheia? O que gera satisfação? Ganhar? 

O mundo está pesando mais. Pessoas estão pesando mais (muito além do peso gravitacional).

Esse é o mundo que vivem os que não veem. Esse é o mundo que vivem os que cegaram pra si mesmo e só conseguem se enxergar quando não há outro como espelho. Esse é o mundo em que o capital, papel, metal,  pedras e roupas valem mais que os que os usam.

Esse não é meu mundo. Ainda sou humano. Ainda me dói ouvir que sou uma boa pessoa por um simples gesto humano. Ainda me aterroriza a ideia de soltar o pior de mim em quem quer que seja. 

Aqui,  um breve lembrete para o caso de, um dia, me tornarem bruto, rígido e mudarem minha natureza. 

Não és isso!

Hoje, apenas amargo,  mas continuo humano.

sábado, 3 de abril de 2021

Sem Dúvidas

 Falando baixo, num sussurro, quase que inaudível, entregou a alma, o coração, a vida.


Sem atenção, recebeu o gesto, não entendeu, mas abraçou o momento.


Transparente, confessou, permitiu seu coração, mostrou seus olhos.


Atônita, revelou surpresa. Começava a entender. Lembrou de tudo que sonhou. Percebeu-se no sonho.


Descrente, seguiu em exposição. Amou sem medo. Amou alto falando baixo.


Ouviu. Questionou. Pensou: "Será que é verdade?"


Esperou. Com tremores. Pernas sem forças depois de todo o esforço de confessar.


Arriscou. Optou por viver no lugar de desconfiar. Acertou em cheio. Aceitou.


Nunca mais se esconderam.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Pequenina (Domínio Público)

Sim, me dá só uma chance,
Somente uma pequenina
E te dou um romance
Que nem imaginas

Sim, pequenina
Somente uma chance
Se puder, imaginas,
O tamanho romance

E se, de fato, imaginas
Esse tanto romance
Acompanha, pequenina
E nos dá essa chance

E se nesse romance
Que agora imaginas
Seja nossa chance
De sermos sempre, pequenina

Canção Sem Pressa (Augusto Simões)


Deixa o nosso tempo chegar
Deixa nosso sorriso brotar

Que a gente vai se ver
E não vai resistir
Que só de imaginar
A gente vai sonhar
E então quando pensar de novo
Um outro beijo
Dei

Deixa a nossa vida se dar
Deixa a gente se apaixonar

Que a gente vai querer
Então vamos sorrir
Vamos até chorar
Então nos consolar
Daí quando sorrir de novo
Um outro beijo
Vem

Deixa o coração te levar
Deixa a emoção dominar

Que outro dia vem
E vamos nos unir
E se nos separar
Saudade vai sobrar
E quando nos juntar de novo
Um outro beijo
Tem


Cifra:

G / C7 / C7/9
F7M / E7 / A7 / D7
F7M / F#7 / G